quarta-feira, 17 de junho de 2009
A Quem Está Longe
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quarta-feira, 11 de março de 2009
Poema Inocente
Mais uma noite triste
E essa chuva que não vem
O pensamento vai longe, vai alto
Coração buscando meu bem.
Uma noite de ar pesado
Esse verão avassalador
que confunde, subjuga tudo
Menos essa fina e insitente dor
Que não larga meu peito arrasado.
Desse mal da alma causado
pela infame palavra amor.
Postado por Matheus Rodrigues às 20:05 2 comentários
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domingo, 2 de novembro de 2008
Canção para uma manhã singelamente perfeita
A Voz De Uma Pessoa Vitoriosa
Maria Bethânia
Composição: Caetano Veloso / Waly Salomão
Sua cuca batuca
Eterno zig-zag
Entre a escuridão e a claridade
Coração arrebenta
Entretanto o canto aguenta
Brilha no tempo a voz vitoriosa
Sol de alto monte, estrela luminosa
Sobre a cidade maravilhosa
E eu gosto dela ser assim vitoriosa
A voz de uma pessoa assim vitoriosa
Que não pode fazer mal
Não pode fazer mal nenhum
Nem a mim, nem a ninguém, nem a nada
E quando ela aparece
Cantando gloriosa
Quem ouve nunca mais dela se esquece
Barcos sobre os mares
Voz que transparece
Uma vitoriosa forma de ser e viver.
"Eita felicidade matinal de pupilas dilatadas que não passa, sô!"
Postado por Matheus Rodrigues às 02:56 3 comentários
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Ácido
Tudo está mais vivo, colorido e, de alguma forma, cada coisa está em seu lugar: o homem correndo sob o sol, o casal com o carrinho de bebê, o velhinho do outro lado da rua. Tudo funcionando como um filme americano... desses com final feliz.
Mas não se trata de um final. É um começo, o nascer de um dia e, voltando da lapa (que esta noite lhe parecera incrivelmente iluminada) acha que caminhar ao longo da Avenida no subúrbio tem um quê de Copacana nos 60.
O dia é lindo, a vida também é isso que importa. E essa vontade de registrar tudo isso bem registradinho também, que fique claro.
Nem essa paranoiazinha de que tudo não seja tão perfeito assim (nem sua mãe do seu lado enquanto escreve) pode macular-lhe a epifania.
Tudo muito feliz, tudo tão feliz que ele descobre, abobalhado, uma nova e rara risada de Maria Bethânia num cd que ouvira zilhões de vezes ao quadrado. Muito perfeito, pensa, não é possível.
Muito perfeito. Alegria assim as vezes é demais, perigosa. E vicia.
Postado por Matheus Rodrigues às 02:38 2 comentários
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domingo, 26 de outubro de 2008
"É dever meu, nem que seja de pouca arte, o de revelar-lha a vida."
Hoje me estenderei mais um pouco.
Falarei de um livrinho pequenino, daqueles que a gente passa em frente e quase nem vê na prateleira da livraria. Não veria se não se tratasse de um dos livros mais fodas do universo (!!).
Trata-se de "A Hora da Estrela" da Clarice Lispector.
Tá, agora pensas : "tooodo mundo sabe do que se trata esse livro!!". Será?
Como muitos devem saber, essa obra de Clarice é uma grande reflexão sobre o ofício de escrever, tem uma verve metalinguística muito apurada na qual o narrador Rodrigo tece considerações sobre sua atividade e a sua proximidade e distanciamento da anti-heroína Macabéa.
Legal. Mas para mim, a genialidade do texto não se encerra na idéia, muito alardeada nos círculos cults, da metaliguagem de Rodrigo e suas reflexões sobre o ato de escrever. Para mim, a própria narrativa, o desenrolar da história anônima de Macabéa que é a grande sacada de Lispector.
É uma narrativa crua, sem romantismos, sobre uma pessoa que "tanto podia existir como não existir". Macabéa é uma imigrante nordestina como milhares outras, que mora num quartinho no centro da cidade como milhares outros, tem uma vida daquelas que não significam nada, é uma anônima, sem perspectiva, sem futuro. Até quando chega sua hora, sua hora da estrela em que um final perturbado nos impôe reflexões ainda mais aterradoras.
Uma obra com passagens dignas de serem alçadas ao rol de imortais, como:
"Sei que há moças que vendem o corpo, única posse real, em troca de um bom jantar em vez de de um sanduíche de mortadela. Mas a pessoa de qeum falarei mal tem corpo para vender, ninguém a quer, ela é virgem e inócua, não faz falta a ninguém."
..."A Hora da Estrela" vem influenciando diversas produções artísticas pelo Brasil desde que foi lançado em 77, desde o cinema à música e outros textos literários (meu próprio "O Diário de M.R." é um exemplo). Mas dentre os frutos dessa obra-prima, a que mais se destaca, ao meu ver, é um show que a grande Maria Bethânia fez em homenagem à Clarice Lispector completamente imerso no universo da obra. Com o mesmo nome do livro, o espetáculo "A Hora da Estrela" estreou em 1984 e trazia Bethânia (que a própria Clarice definia como "Faíscas no palco") não como Macabéa, mas como a voz que trazia a epopéia dessa anti-heroína nordestina perdida na cidade do Rio. Dirigido por Naum Alves de Souza, o show também trazia Raul Gazolla como Olímpico e Jurema Strafacci como Glória, num espetáculo que, embora fosse centrado na música (algumas compostas por Chico Buarque, Caetano Veloso e Waly Salomão exclusivamente para o show), trazia grande apelo teatral e, embora não tenha sido lançado como disco, fez história na música brasileira e, graças à uma gravação não oficial, podemos disponibilizar aqui.
Postado por Matheus Rodrigues às 09:36 1 comentários
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terça-feira, 14 de outubro de 2008
"Vininha, velho, Saravá!!"
Todos sabem que eu simplesmente AMO o Vinícius de Moraes. Pois bem, hoje a dicasinha não poderia ser melhor: sua Antologia poética em áudio com o próprio poetinha falando!!
Porque melhor do que me ver berrando suas preciosidades é ver como o próprio autor lê o que escreve!
Para baixar a parte 1, clique aqui!
Para baixar a parte 2, clique aqui!
Vale a pena conferir: Soneto de Separação, Poética I, Poética II, O Mais que Perfeito, Soneto do Amor Total e O Poeta Aprendiz.
Postado por Matheus Rodrigues às 21:20 1 comentários
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terça-feira, 7 de outubro de 2008
Oração pelos meninos II
Oh Pai, não nos permita mascarar nossos vícios
e nossas idiossincrasias todas
Nos guie pra longe do triste
e das hipocrisias tolas
Guarde, oh Deus, esses meninos
que voam distraídos no centro da cidade
sem nem saber o nome de tudo o que sentem
Livra-nos, oh Pai,
daqueles que matam, daqueles que oprimem
daqueles que mentem
Ensina-nos, acima de tudo,
a amar.
A amar o amor sereno e "sem fulminação"
dos que não precisam prender para atar.
Nos livre do amor fútil de cada dia
Do vício da má companhia
Nos dê prazer na solidão que,
embora triste
Nos alumia.
____________________________
Essa oração é a segunda parte de um longo e necessário clamor aos céus iniciado por Hudson Pereira, meu poeta ao alcance das mãos preferido. Uma dessas pessoas que se afastam de nossos corpos, mas jamais de nossos corações.
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sábado, 4 de outubro de 2008
À Minha Escola
ainda lembro
aquelas danças
dos meus tempos de criança
que ficaram na lembrança.
E hoje só vivem
por lá.
O que restou foi a saudade.
Que hoje, atroz, me invade.
Jogado no canto,
meu velho ganzá.
Ontem à noite eu saí pela rua,
á procura do Samba,
sem encontrar.
Meus olhos choraram tristonhos
O que já sabia meu coração:
O chão de estrelas,
o teto de zinco,
-escola querida,
não existem mais não.
Postado por Matheus Rodrigues às 20:09 2 comentários
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domingo, 28 de setembro de 2008
A Defesa do Poeta
Ainda com as reminiscências da Poemática, posto esse excerto dessa coisa "felomenal" que recitei na ocasião:
"Senhores sou um poeta
um multipétalo uivo, um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto
Sou um instantâneo
Das coisas apanhadas
Em delito de paixão
Sou uma impudência a mesa posta
de um verso onde o possa escrever
ó subalimentados do sonho
a poesia é para comer!"
-Trecho do texto A Defesa do Poeta, de Natália Corrêa
Eu falando o texto acima.
Postado por Matheus Rodrigues às 19:16 4 comentários
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quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Ficar feliz de se desesperar
Rir até doer
De tanto amor morrer
Quem disse que há regra em viver?
Postado por Matheus Rodrigues às 19:53 1 comentários
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terça-feira, 19 de agosto de 2008
“Ver é a pura loucura do corpo”
Hoje fui conferir e recomendo!: Clarice Lispector - A Hora da Estrela
Exposição cenográfica que assinala os 30 anos de morte da escritora, falecida em 1977 e de publicação da novela A hora da estrela. Com textos, objetos pessoais da artista, reconstituição de espaços cênicos citados em sua obra e vídeos com entrevistas, a mostra comprova que a autora continua a ocupar, mesmo após três décadas de ausência, um lugar único na literatura brasileira. Com cenografia de Daniela Thomas e Felipe Tassara, a exposição traduz o caráter reservado e intropesctivo da autora, por meio de uma ambientação intimista.
Curadoria: Julia Peregrino e Ferreira Gullar
Texto extraído do Site do Centro Cultural Banco do Brasil, para ver na íntegra, clique na imagem.
Postado por Matheus Rodrigues às 18:33 4 comentários
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domingo, 10 de agosto de 2008
A Cena Muda
Em 1974, Maria Bethânia voltou a trabalhar com Fauzi Arap, que concebeu um complexo, intenso e ousado espetáculo, a começar pela ambigüidade do próprio título, A Cena Muda refletindo que neste show a cantora não recitaria textos, pois era uma época que não se podia "falar" - de terrível censura. Ele tinha como tema central o sucesso, representado pelo ouro do poder e dos alquimistas.
E tome canções de letras fortes para falarem mais que mil palavras. Ia de Chico Buarque, Paulinho da Viola, Gilberto Gil, várias inéditas de Sueli Costa, Caetano e Gonzaguinha (este gravado por ela pela primeira fez e logo três canções de protesto: "Galope", Gás Néon" e "Desesperadamente") a várias pérolas de cantores do rádio, a quem o LP era dedicado. A Cena Muda é um dos grandes discos ao vivo de Bethânia e um dos espetáculos musicais mais ousados feitos no Brasil. Viva Bethânia!
Postado por Matheus Rodrigues às 16:20 2 comentários
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sexta-feira, 8 de agosto de 2008
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sábado, 2 de agosto de 2008
Considerações Sobre Quem Acaba de Nascer
Postado por Matheus Rodrigues às 21:50 4 comentários
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Havia prometido ser feliz hoje.
Fazer o quê?
Tenho provado constantemente minha vocação para decepcionar.
Postado por Matheus Rodrigues às 21:25 0 comentários
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quinta-feira, 24 de julho de 2008
Pág. 02
A hora fria bate e esse vazio torturante do meu peito não passa. Minhas pálpebras pesam, não só pelo escuro em que escrevo mas também pela vontade voraz de fechar meus olhos para sempre e não olhar mais esse mundo que eu entendo demais para que me aceite. Que fazer? Me matar? Já passou pela minha cabeça, mas muito mais de uma forma metafórica. Sou covarde demais até para isso. Na verdade eu queria me suicidar e não morrer. Sim, sobreviver para, além de provar minha imensa inaptidão para qualquer coisa, alguém finalmente reparasse em mim.
Postado por Matheus Rodrigues às 21:59 4 comentários
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segunda-feira, 21 de julho de 2008
Postado por Matheus Rodrigues às 20:52 3 comentários
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Pág. 01
Postado por Matheus Rodrigues às 20:29 2 comentários
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domingo, 20 de julho de 2008
Prólogo
O que há além da janela? Esses imensos olhos de vidro frágil nos quais ela olha a vida lá embaixo passando incólume pela sua existência. Esse espelho frio levemente embaçado pela fria madrugada que a violenta.
O que há além dos olhos dela? Esses olhos que as pessoas não enxergam, embora vejam todos os dias atrás do balcão, na sala de aula ou passeando perto do CCBB. Na verdade nem era pra doer. Ela também já não enxerga as pessoas. Estuda a história de genocídios sem perceber que ela mesma não passa de uma anônima que bem podia existir como não existir. Exatamente. Ela não percebe que apenas existe. Está longe de viver quando o silencia se impõe, a lua anda no céu e ela rabisca mais uma folha de seu velho diário.
Postado por Matheus Rodrigues às 17:29 1 comentários
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quarta-feira, 9 de julho de 2008
Rosto com rosto
Corpo com corpo
E um segundo se faz eterno
Em meio aos sons quase inaudíveis
Do torpor de nossos corpos
Eu e você
Iguais
E tão diferentes no amor
Sangue
Suor
E, como um círculo, um laço
Recomeçamos, exaustos
Sem pressa
Sem culpa
Sem medo.
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quinta-feira, 15 de maio de 2008
São Pedro Damiani -Liber Gomorrhianus (Livro de Gomorra), 1049
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domingo, 23 de março de 2008
Postado por Matheus Rodrigues às 20:31 1 comentários
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quarta-feira, 19 de março de 2008
Postado por Matheus Rodrigues às 21:47 0 comentários
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Monotonia
Mais um gole de vinho barato. Seu rosto me volta à memória, aparece e some entre as evoluções da fumaça que parece querer dominar toda a sala. Como você, como a vontade de possuir-te que me devora por dentro inteiro.
“Primeiro você me azucrina, me entorta a cabeça...” Não seria fácil se não temêssemos o que os outros podem pensar?
“Num jogo de culpa que faz tanto mal...” Acabo de pensar em seu último gesto. Um gesto de negação. Terias negado a mim, a ti, a nós dois ou o que há de mais íntimo e precioso, a felicidade?
“E esta vida da gente gritando que não...” Desisto de me martirizar, acho que você vale toda vergonha, todos os olhares atravessados e nosso amor sendo tachado de anormal, no entanto não sou capaz de aceitar sua hesitação, sua covardia.
Poderia agora encostar minha cabeça em seu ombro e deslizar lentamente meus dedos por sobre seus músculos cansados e dormir com a certeza de sermos normais, apenas mais um casal apaixonado. Acendo mais um cigarro. Sou apenas um homem, mais um. A beleza da humanidade é a singularidade do indivíduo. Talvez o que não perdôo em você é me fazer pensar que sou errado, justamente onde o certo e o equivocado não existem. Silêncio. O CD acabou meu vinho também. Desligo a TV. Pego Os Pastores da Noite, a fumaça me inebria. Mergulho nas desventuras da Bahia de Todos os Santos e dentro de mim rogo a eles que te abram, suavizem o coração.
Numa onda meio tristonha em 30/12/05.
Postado por Matheus Rodrigues às 20:51 1 comentários
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terça-feira, 18 de março de 2008
O outro lado
Foi aí que eu lembrei de uma das minhas discussões quando militava mais ativamente no movimento de cultura no Rio de Janeiro, andara em muito em voga as questões referentes à resistência cultural e a defesa da mídia independente. E os blogs vêm colaborar grandemente nesse sentido.
Acho importante que nós, Brasileiros, tenhamos claro que não é com edições falaciosas ( a exemplo da Veja, só para ilustrar) que construiremos um país instruído e crítico. Essa fabricação do senso comum que esse tipo de publicação sugere não reflete a realidade do Brasil, embora insistam em enfiar-nos goela abaixo suas posições esquizofrênicas sobre tudo e todos.
Sem quere me estender (esse assunto rende ALGUNS tratados),acho que vou deixar aqui algumas links interessantes. São poucas, por enquanto, mas vou ver se eu organizo aqui ao lado algumas sugestões de leitura para quem se interessar. E, quem sabe, com leitores um pouco mais perspicazes e críticos a gente muda essa pouca vergonha toda.
Por enquanto é só.
Beijos a quem é de beijos.
Postado por Matheus Rodrigues às 19:51 0 comentários
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sexta-feira, 14 de março de 2008
Sem explicação
Temos que estar cônscios de que as perdas e as conquistas pertencem exclusivamente a nós mesmos. Eu, com esse meu lado semi-massoquista, compro os riscos e parto pro bar ou seja pra onde for que se encontre meu objeto obsediado, mesmo sabendo que a noite pode vir a ser uma tragédia grega.
Mas eu gosto, com o tempo aprendi a saber que eu simplesmente não me encaixo. Sou inteligente demais pra ser burro, ignorante demais pra ser intelectual, gay demais pra ser hétero, macho demais pra bicha, amigo ao invés de amante, romântico demais pra ser insensível, decidido demais pra me acovardar, acomodado demais pra mudar deveras...etc, etc.
Simplesmente não me encaixo. Sou mais uma "Charada Sincopada que ninguém da roda decifra nos serões da província", como disse Pessoa.Alguém que, por mais que se aproxime de vários estereótipos- e, talvez por causa disso- não pertenço completamente a nenhum grupo fecahdo.Sou fugidio demais até pra eu mesmo.
Em tempo: a noite não terminou em uma tragédia grega, graças ao meu outro talento, o de me adaptar. Termino o post com José Régio, falando meu mote pessoal.
Cântico negro
José Régio
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí!
Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
**Leia ouvindo "Estranha Forma de Vida" com Maria Bethânia
Postado por Matheus Rodrigues às 21:25 0 comentários
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terça-feira, 11 de março de 2008
Invocação
E dos que andam a sós pela noite
Pai de toda sombra
E mestre do manto noturno
Dono de toda fala e de todo ouvir
Quando tu passas instaura-se o caos
E quando o queres a ordem e a paz
Tu és aquele a quem as divindades pedem licença
Tu és aquele de que se treme ante a simples presença
Trazes em ti o mal e o bem
A claridade e o breu
Num eclipse eterno
Trazes a vingança do pai
Trazes o ódio materno
Mestre da inverdade e do fato
Mestre de toda infâmia e desalento
Espírito de luz de alma divina
E ao mesmo tempo humana
Oh senhor deus das encruzilhadas
E dos dúbios descaminhos
Vigias minhas passadas
E dobra meus inimigos
Observas de cada esquina
O que vai em meu coração
Pois a ti pertence o poder
Oh deus da escuridão.
Postado por Matheus Rodrigues às 19:16 1 comentários
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segunda-feira, 10 de março de 2008
Pela breve duração do nosso amor
Acontece, nada é eterno
Só não me guarde raiva
Ou rancor
Meu espírito é livre
E nenhum quarto o prenderá
A vida me chama agora
E nem o seu drama
E nem sua cama
Vão me segurar
Olha, é melhor acabar por aqui
Eu sei, meu amor, não é fácil
Competir com o jogo ou o bar
Eu errei contigo, confesso
Mas não queria te magoar
Nada disso é tão complicado
É simples até
Eu vou te explicar
Ouça, benzinho
Até logo
Se doeu, não era pra durar.
Postado por Matheus Rodrigues às 21:01 1 comentários
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domingo, 9 de março de 2008
Início
A vida é efêmera, frágil e, no fim de tudo, sem significado, um sem-fim de dificuldades e batalhas muitas vezes vãs. Um estúpido fato que nos faz até sentir vergonha de nos ocuparmos com um monte de baboseiras como, por exemplo, a arte.
Às vezes é dilacerante ao coração jovem perceber a inércia do mundo. Quando, à noite, deito em minha cama exausto de mais um dia, me pergunto: por que?
Aí me vem a resposta, talvez seja somente por isso, tentar captar esse instantes de pura subjetividade, essa ânsia feroz de viver tudo o quanto há pra viver nesses tempos difíceis, nessa vida de aspereza atroz. Usar de toda essa pseudo-inspiração para nos libertar, poetizar, musicar, transmitir o que há de bom e mau em mim. Ou apenas tornarmo-nos mais humanos. Se será relevante eu não sei, mas já é um começo.
“Toda arte é completamente inútil.”
Oscar Wilde
Postado por Matheus Rodrigues às 16:32 2 comentários
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